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RELEASE Por Amanda Mont’Alvão Podemos passar anos estudando a gramática de uma certa sonoridade, mas é a escolha das palavras que separa a inspiração e a autoria da cópia. Desde 1999, o vocabulário sonoro escolhido pela banda paulistana Duelectrum atesta o barulho e a melodia como pilares de identidade amarrados a um contexto de claustrofobia típico das grandes metrópoles. Agora, 15 anos depois, o sufoco e a falta de ar são desenhados nas quatro faixas do quarto EP do grupo, intitulado She Doesn’t Feel the Sun e lançado em agosto pelo selo paulistano Sinewave. Filipe Albuquerque, idealizador da banda e à frente de voz e guitarra, compilou a maneira com que bandas como Smiths, Bailterspace, Joy Division, Swervedriver, Slowdive e Jesus & Mary Chain o afetaram e descascou o “estrago” que elas fizeram na faixa homônima “She Doesn’t Feel the Sun” e nas sequências “Trembling Blue Stars” e “She Doesn’t Feel the Sun (Alternate Version)”. Há ainda um cover do Grauzone, “Eisbär”, cantada em alemão nativo pelo baixista Franklin Weise e relida/renascida com tintas shoegaze e post-punk. Aos dois se juntam Elson Barbosa na bateria e Lucas Lippaus na guitarra, ambos emprestados da banda paulistana Herod. No papel de catalisadores do peso como moeda de troca sonora, Elson e Lippaus agregam quebra e aspereza ao Duelectrum. Em conjunto, as quatro faixas levam um improvável e simultâneo combo de urgência e contemplação aos ouvidos, usando a bipolaridade como ponto de partida para o surpreendente. Em “Trembling Blue Stars”, sussurros da britânica Creation Records aparecem como bênção, mas esbarram em uma suposta passividade cantada por Filipe e ecoada pela bateria de Elson. Já em “She Doesn’t Feel the Sun”, o Duelectrum instala uma parede preenchida por guitarras e que é derrubada, na surdina, pela melancolia que brota da faixa. O inominável da angústia ressurge ao fim do EP, em uma versão acústica e de palavras abafadas. Ao fundo, um véu de dissonâncias se acumula e estoura, roubando a cena e prestando uma homenagem à educação a distância na qual os irmãos Reid jamais se admitiram como professores. Esse processo de “pedalização” exaustiva da canção faz com que o Duelectrum se junte a um movimento nacional de distorção daquilo que é notadamente conhecido como música feita no Brasil, apostando em uma comunicação feita por pedais e outras adjacências essenciais à música que vislumbra o etéreo e a transcendência. Se a tarde costumeiramente cai feito viaduto por aqui, o Duelectrum inscreve a noite como pavimento para outras linguagens reconhecidamente brasileiras, esculpidas sobre boas importações. Entre fissuras e colapsos de referências, o mais novo EP do Duelectrum constrói um diálogo com o passado dos anos 80 e 90 sem as premissas perigosas da releitura e da imitação. Confirma, por sua vez, a condição atemporal do barulho, do ruído e da melodia amplificada como vocábulos musicais sensivelmente conectados àquilo que não sabemos explicar, mas sim, tão somente sentir. FICHA TÉCNICA She Doesn’t Feel the Sun (EP) |
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