KOVTUN – HELL (2021)

RELEASE (PT)

Peça final de uma trilogia não linear (junto de DEATH e LIFE), HELL é o tormento do Kovtun aprimorado. Primeiro trabalho gravado em estúdio profissional, o disco vê novamente Raphael Mandra abrindo seu inferno íntimo a colaboradores: além dos parceiros de longa data Abel Marduk (guitarras, piano) e Lucas Santos Marques (bateria e percussão), marcam presença o misterioso projeto Bruxismo, os versos de Fernando Pessoa e o fotógrafo português Fernando Lemos, cuja estética surrealista é emulada no autorretrato da capa.

Engana-se quem imagina que tal aperfeiçoamento sanitiza o universo quase impenetrável do Kovtun. Como não podia deixar de ser, a “conclusão” desta saga pessoal turbulenta possui a sonoridade mais punitiva entre os três capítulos: percussão de tons industriais, guitarras que herdam a sujeira do black metal, edição de vozes que se tornam quase memórias borradas aos moldes do The Caretaker e sintetizadores que evocam Jarboe, onde até os momentos serenos são acompanhados da brutalidade nos volumes.

Abordar as faixas de HELL separadamente seria trabalhar contra a natureza da obra, conjunto coeso entre suas dualidades. Apesar da tensão preponderante nas quinze faixas, não é exagero assumir que todo o caos niilista aponta para o fim do túnel, não o fundo do poço – a calmaria dentro da tempestade, e vice-versa.

RELEASE (EN)

Final part of a nonlinear trilogy that began with previous records DEATH and LIFE, HELL is the refinement of Kovtun‘s torment. First album recorded in a professional studio, the LP shows Raphael Mandra opening his personal suffering to collaborators once again: besides long time partners Abel Marduk (guitars, piano) and Lucas Marques (drums, percussion), the mysterious project Bruxismo and the verses of Fernando Pessoa are present.

But such improvement does not sanitize Kovtun’s almost impenetrable universe. As expected, the “conclusion” of such turbulent personal saga presents his most punitive sound so far with industrial percussion, guitars that echo black metal’s raw filth, voice editing that create sounds similar to blurred memories akin to The Caretaker’s work and synth lines evoking Jarboe’s classic material, where even serenity walks side by side with the brutality of the volume.

Discussing songs separately would work against HELL‘s core nature, a cohesive tracklist within its dualities. Despite the prevailing tension in the fifteen tracks, it is no exaggeration to assume that all the nihilist chaos points to the end of the tunnel rather than the rock bottom – the calm within the storm, and vice versa.